quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Poema de Amor

 Em minha alma é escrito vosso rosto
e quanto eu escrever de vós anseio:
vós sozinha o escrevestes, eu o leio
tão só que nisto vos evito a gosto.
 Nisto estou e estarei sempre disposto
que, não cabendo em mim o meu enleio,
desse bem o que não entendo creio,
tornando já a fé por pressuposto.
  Eu não nasci senão para querer-vos;
minha alma à sua altura vos talhou;
para hábito de minha alma vos quero;
  quanto possuo confesso já dever-vos;
por vós nasci, por vós na vida estou,
por vós morro, por vós morrer espero.

Garcilaso de La Vega (1501-1536)
Antologia da Poesia Espanhola do «Siglo de Oro» - Renascimento
(organização e tradução de José Bento)

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