sábado, 14 de abril de 2012

O baptismo da boneca

Encontrei-o no fundo de uma gaveta, um papel velho, enrugado e rasgado, não sei quantos anos tem ou quem escreveu. Está incompleto, mas mesmo assim vale a pena.

 1º
Junto de um berço adornado
com rendas de alto valor,
vinte rostinhos alegres
se agitavam com ardor.
Falavam! as tagarelas!
Oh, Deus! que inventaram elas!
Vão um baptismo fazer
na festa nada faltava;
Tudo ria e conversava
nesse inocente prazer.


Molemente reclinada
no seu bercinho gentil,
a bonequinha enfeitada,
mostrava o rosto infantil;
a respeitável madrinha
que apenas dez anos tinha,
em seus braços a tomou;
e toda a turba, apinhada
ao redor da baptizada,
em grupo se amontuou.


Doces, confeitos, gelados,
com gastos e com profusão,
as louquinhas tudo haviam
preparado de antemão;
Que hoje em dia felizmente
uma boneca decente
não se pode baptizar
sem flores e doces finos...
nem os repiques dos sinos
lhe haveriam de faltar!


Apenas cada menina
o seu bolinho comeu.
A respeitável madrinha
à festa principio deu:
minhas amigas queridas,
que estais aqui reunidas
para a Bebé baptizar,
já que fostes convidadas,
fingi que sois boas fadas
e vinde a Bebé fadar.


Tu, primeiro, Margarida,
responde: que lhe darás?
-Eu quero que seja linda.
E tu  Rosa, que lhe dás?
-Eu concedo-lhe a riqueza.
E tu pequena Tereza?
-Eu quero que dance bem.
-Eu, que ela tenha talento.
-Eu, que num só momento
 cause desgosto a ninguém.


-Eu dou-lhe um riso engraçado.
-Eu, uns dentes de marfim.
-Eu, uns olhos de safira.
-Eu, uns lábios de carmim.
-Eu, uns cabelos dourados,
lustrosos e encanudados.
-Eu...não sei que dar-lhe mais!
-Basta filhas, ( diz sorrindo a mestra, que estava ouvindo)
já mais dotes não achais.

...


Sem comentários:

Enviar um comentário